
Se você trabalha com e-commerce desde os anos 2000, lembrará que naquele tempo 100% das grandes lojas online do mercado eram nacionais ou de multinacionais varejistas que tinham operações de lojas físicas no Brasil.
B2W (Americanas, Submarino e Shoptime), Extra.com, Ponto Frio, Magazine Luiza, Ricardo Eletro, Netshoes, Livraria Saraiva, FNAC: essas e outras marcas dominavam o mercado em um cenário onde todas cresciam, aproveitando o crescimento exponencial do ecossistema digital daqui.
Alguns anos depois, Amazon e Mercado Livre se instalaram no país, dando início à Era dos Marketplaces. Esses 2 players trouxeram o conceito que o varejo era só uma parte dos seus negócios, mas que gerar receitas de outras maneiras era extremamente necessário, visto o apertado resultado operacional que os e-commerces apresentavam.
A partir da década de 2010, especificamente em 2015 os Marketplaces asiáticos começaram a desembarcar no Brasil. O primeiro a ganhar os e-consumidores foi o AliExpress. A plataforma, do Alibaba Group, despertou interesse pela plataforma devido à grande variedade de produtos e preços baixos, especialmente em categorias como eletrônicos, roupas, acessórios e itens para casa.
Entre 2015 e 2017, o AliExpress começou a adaptar suas operações para o Brasil, com melhores opções de frete e a introdução de métodos de pagamento mais acessíveis aos consumidores brasileiros, como parcelamento no cartão de crédito e frete com rastreamento.
A segunda a desembarcar em solo tupiniquim, em 2018, foi a Shopee. plataforma de e-commerce da empresa Sea Group (que também controla o Garena, um gigante do ramo de games). O grande diferencial da Shopee, comparado ao AliExpress, foi a sua proposta de ser mais do que uma plataforma de venda de produtos chineses, se tornando uma verdadeira plataforma de Marketplace local e internacional, com uma experiência de compras mais amigável.
A Shopee rapidamente se popularizou no Brasil devido a seu foco em promoções agressivas, como frete grátis, descontos e uma experiência de compra mobile-first. Isso atraiu consumidores brasileiros que, além de procurarem preços baixos, também queriam uma plataforma simples e conveniente de usar. A plataforma também apostou pesado em campanhas publicitárias e promoções, como os famosos "super descontos" e eventos de "ofertas relâmpago", o que gerou um alto volume de tráfego e conversões, especialmente entre o público jovem e de classes mais baixas.
AliExpress e Shopee foram apenas os que abriram esse caminho. Segundo relatório da Conversion, 4 dos 10 e-commerces com mais acessos no Brasil em Janeiro/25 são asiáticos.

Shopee, AliExpress, Shein e Temu estão na lista dos mais acessados e com posições de destaque. A Temu foi a última a ingressar no mercado nacional, o que aconteceu em 2023 e possui estratégia muito similar aos seus concorrentes.
Sabe-se também que está prestes a desembarcar no Brasil o Tik Tok Shop, plataforma de Marketplace que já está presente em diversos países como Reino Unido, Estados Unidos e México. Nesses locais, o Tik Tok Shop já incomoda gigantes como Amazon, trabalhado o diferencial que é a junção nativa de toda a rede social e seus criadores com a plataforma de e-commerce. Ao chegar no Brasil, com certeza ganhará muito espaço, visto que os brasileiros batem recordes de uso de redes sociais e uso de influenciadores.
O que explica o sucesso dos Marketplaces asiáticos no Brasil?
Os Marketplaces asiáticos têm experimentado um crescimento expressivo no ecossistema de e-commerce brasileiro devido a uma combinação de fatores estratégicos, econômicos e culturais. Aqui estão algumas razões principais:
Preços Competitivos: Os Marketplaces chineses, como AliExpress, Shein e outros, conseguem oferecer produtos a preços significativamente mais baixos em comparação com os concorrentes locais, principalmente devido à produção em massa e aos custos mais baixos de fabricação na China. Isso atrai consumidores que buscam alternativas mais acessíveis.
Grande Variedade de Produtos: Esses Marketplaces oferecem uma enorme gama de produtos, desde eletrônicos até roupas e acessórios, com uma vasta variedade de marcas e modelos. Isso permite que os consumidores encontrem itens específicos que podem não estar facilmente disponíveis no mercado brasileiro.
Facilidade de Compra e Frete Acessível: Plataformas como AliExpress e Shopee se destacam por simplificar o processo de compra para os brasileiros. Além disso, elas têm investido em soluções de frete mais acessíveis, com a Shopee, por exemplo, estabelecendo parcerias com transportadoras locais para melhorar a entrega e reduzir os custos de envio.
Marketing e Promoções Agressivas: Os Marketplaces asiáticos têm investido fortemente em marketing e promoções específicas para o Brasil, criando campanhas agressivas com descontos, cupons e eventos de compras (como a famosa “Black Friday” chinesa, o 11.11, ou a promoção de “frete grátis”), o que atrai consumidores em busca de boas ofertas.
Crescimento do Mobile Commerce: O Brasil tem uma alta taxa de adoção de smartphones e, com a crescente popularização do m-commerce (compras via dispositivos móveis), Marketplaces como a Shopee se tornaram ainda mais acessíveis, facilitando a experiência de compra para os consumidores brasileiros.
Construção de Confiança com o Consumidor: Apesar de alguns desafios iniciais, os Marketplaces asiáticos têm se esforçado para melhorar a experiência do consumidor, com opções de devolução de produtos, atendimento ao cliente em português e um sistema de avaliação que ajuda os compradores a confiar nas avaliações de outros consumidores.
Falta de Oferta Local e Exclusividade de Produtos: Algumas categorias de produtos, especialmente eletrônicos, gadgets e acessórios, não são facilmente encontradas no Brasil, ou os preços são muito altos. Os Marketplaces asiáticos preenchem essa lacuna oferecendo produtos exclusivos ou com preço muito mais acessível.
Esses fatores criaram uma combinação vantajosa para os consumidores brasileiros, que buscam preços mais baixos e maior variedade de produtos. Ao mesmo tempo, esses Marketplaces aproveitaram um ecossistema e-commerce e uma base de e-consumidores já bem desenvolvidos no Brasil para expandir rapidamente, criando uma presença cada vez mais forte no mercado brasileiro.
Como os varejistas podem competir com os Marketplaces asiáticos?
Para as operações nacionais, enfrentar a concorrência desses players é missão extremamente complexa. No entanto, existem saídas que podem ser trabalhadas para tentar minimizar os desafios de competir com esses gigantes:
Conexão Emocional com o Consumidor: e-commerces brasileiros podem se concentrar em construir marcas fortes, com um relacionamento mais próximo e humano com os clientes.
Omnicanalidade: para as operações que contam com lojas físicas, aproveitar esses múltiplos pontos de contato podem ajudar a estreitar o relacionamento com os clientes, oferecer comodidade e gerar oportunidades de receita entre os canais (ex: compre no site, retire na loja);
Entrega Rápida: Um dos principais problemas para os consumidores que compram de Marketplaces de fora é o tempo de entrega. Os players nacionais podem se destacar oferecendo prazos de entrega mais rápidos, inclusive com as modalidades de entrega no mesmo dia ou no dia seguinte;
Atendimento ao cliente: O suporte ao cliente no Brasil pode ser mais eficiente e rápido, algo que nem sempre é garantido por Marketplaces internacionais. Ter um canal de atendimento local ágil e com foco no consumidor pode ser um grande diferencial;
Os Marketplaces asiáticos são realidade e conquistaram muitos brasileiros. As plataformas brasileiras precisam cada vez mais se preparar para combater essa concorrência, muitas vezes vista como desleal, dado todo o cenário chinês (com incentivos e escala de produção muito superiores às nossas).
Ainda assim, o ecossistema brasileiro é extremamente maduro, o que permite uma acomodação dos players e não uma canibalização. Os varejistas brasileiros já mostraram resiliência quando Amazon e Mercado Livre chegaram ao país e souberam adotar estratégias para continuar competitivos.
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